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Wednesday, February 8, 2012

Made in Crise

A Dívida

Tem sido corrente se falar da Dívida. Hoje mais do que nunca, este termo que até 2008 estava confinado ao mundo económico-financeiro, caiu na boca do mundo. A Dívida, Pública ou Privada, é o tema do momento. Depois da avassaladora Crise Financeira ter posto à nu às fragilidades da economia real de alguns países, a comunicação social não dá tréguas à dita Crise da Dívida Pública e a escalada dos seus efeitos, dominó, já é de tal ordem que uma sondagem recente do Fórum Económico Mundial o aponta como sendo a tendência que terá maior impacto na economia global nos próximos 12 meses.

Depois da Crise Financeira ter atingido proporções globais, os investidores começaram a exigir rigor quanto à aplicação dos seus fundos, exigindo cada vez maiores taxas às entidades e governos cujas dívidas não dessem garantias evidentes e alavancadas na força produtiva interna. É assim que a Grécia, conhecida pelas dívidas profundas do seu sistema, comportamento fraudulento dos seus contribuintes e gastos descontrolados e não alinhados aos compromissos internacionais, nomeadamente acordos europeus, começa a sofrer quando lhe passa a ser cobrado cada vez mais caro um financiamento. Com a evolução da Crise Grega, a ameaça de extensão dos mesmos problemas a outros países, nomeadamente, Portugal e Espanha, levou a que estes rapidamente iniciassem um discurso de adopção de medidas de austeridade, como forma de mitigar os riscos e reduzir as necessidades de financiamento, procurando garantias de puderem fazer face aos seus compromissos correntes. Hoje estremece os países com economias menos estáveis da Zona Euro, como são os casos de Portugal, República da Irlanda, Itália e Espanha, cujas actuações estão focados na procura de reajustamentos das suas contas com medidas suplementares e na indagação de soluções para suas economias produtiva.

Têm sido colossais os esforços dos países desenvolvidos para trabalharem na sua Dívida. Hoje mais do que nunca estão focados nos riscos e na responsabilidade da Dívida. Este colosso que os países estão a gerir, tem sido árduo e com diferentes avanços e resultados alcançados. A Crise da Dívida da Zona do Euro é apenas a mais recente demonstração de como podem ser tóxicos as consequências que um país pode sofrer, quando a sua dívida é grande e o seu crescimento é fraco. Por isso, partilho convosco um olhar sobre a evolução da Dívida, tomando como fonte estudos da Mckinsey Global Institute.

EUA

Depois do pico das dificuldades enfrentado pelo povo americano, o comportamento das famílias nos EUA tem conduzido a que o endividamento das famílias tivesse caído em 584 Mil Milhões de Dólares, cerca de 4%, a partir do final de 2008 até o segundo trimestre de 2011. Esta redução está fortemente ligada a diminuição da dívida hipotecária e do crédito ao consumo, que representa cerca de 80% desta queda. Os americanos têm aumentado constantemente seus níveis de dívida nos últimos 60 anos, reflectindo o desenvolvimento de mercados de hipotecas, crédito ao consumidor, empréstimos estudantis, e outras formas de crédito. Depois de 2000, o rácio da dívida das famílias disparou, ultrapassando a linha de tendência em mais de 30%. No entanto, a boa nova é que a partir do segundo trimestre de 2011, essa proporção caiu já 11%, dando fortes indicações em como no ritmo actual poderemos voltar a tendência do passado, em meados de 2013.

REINO UNIDO

Embora podemos dizer de que no Reino Unido as famílias também reduziram a sua Dívida, também é verdade de que esta diminuição é mais tímida de que a ocorrida nos EUA, continuando mesmo este rácio a ser significativamente maior do que nos EUA, no pico da bolha. Aqui, a Dívida das famílias em circulação caiu menos de 1%, mas as hipotecas residenciais continuaram a crescer, embora num ritmo mais lento do que antes de 2008. Desta forma tem-se compensado parte da quebra de mais de 25 biliões de libras ocorridos no crédito ao consumo. Embora, o Banco Central britânico alerta para o facto de muitas hipotecas residenciais no Reino Unido poderem estar em apuros. Segundo o Banco de Inglaterra cerca de 12% podem estar em tolerância ou contenciosos, e um adicional de 2% são não cobráveis. Portanto, este processo de tolerância tranquila no Reino Unido, combinado com o recorde de baixa de taxas de juros, podem estar a mascarar riscos significativos que certamente atacaram mais à frente. É verdade que os pagamentos da dívida das famílias do Reino Unido são um terço maior do que os dos seus homólogos nos EUA e 10% mais elevado do que eram em 2000, antes da bolha. Esta estatística é particularmente problemática, porque, pelo menos, dois terços de hipotecas do Reino Unido têm taxas de juros variáveis, que expõem os mutuários para o potencial de subida das taxas de juros no pagamento das suas dívidas. No Reino Unido, urge se proporcionar a redução da Dívida das famílias de forma constante, embora respeitando o tradeoff de não sufocar o crescimento no consumo, que continua a ser o factor crítico do PIB no Reino Unido.

ESPANHA

Em Espanha, desde a crise de crédito, o endividamento das famílias caiu 4% e as acções em circulação da dívida das famílias 1%. Tal como no Reino Unido, as hipotecas e outras formas de crédito continuaram a crescer enquanto o crédito ao consumo caiu acentuadamente. Se por um lado é verdade este crescimento das hipotecas, também é certo de que o número de situações em tolerância e contencioso tem aumentado desde a eclosão da crise. Portanto, mais problemas podem estar adiante. Aqui, cerca de metade das famílias com remuneração mais baixa, com crédito hipotecário, tem nesses custos mais de 40% das suas remunerações, em comparação com pouco menos de 20% para as famílias de baixa renda dos EUA. Enquanto isso, a taxa de desemprego em Espanha é agora de cerca de 21,5%, muito acima dos 9% de 2006. Em Espanha, ao contrário da maioria de outras economias desenvolvidas, os níveis de endividamento das empresas subiram acentuadamente na última década, principalmente, devido a baixa significativa das taxas de juros, após o país aderir à zona euro. Em Espanha, hoje as empresas detêm em dívida o dobro da produção nacional, exactamente igual às empresas dos EUA e seis vezes mais do que as empresas Alemãs. Assim, parece lógico ter que vir a ocorrer alguma redução da Dívida das empresas, nos próximos anos.

RECUPERAÇÃO – Exemplo da Finlândia, Suécia e Coreia do Sul

Gerir e reduzir a Dívida, assim como desenvolver a economia nacional produtiva, em simultâneo, é fundamental para o estabelecimento das fundações de uma economia, com base num crescimento sustentável, a médio e longo prazo. As economias têm de enfrentar este duplo desafio. Bons exemplos da história oferecem-nos lições importantes. Assim, proponho que relembremos os casos da Finlândia e da Suécia, ocorridos na década de 1990, e da Coreia do Sul após a crise financeira de 1997. Todos estes países tiveram situações semelhantes. No caso, a desregulamentação bancária (ou fraca regulação), o que levou a um boom de crédito, que por sua vez alimentou as bolhas de activos imobiliários e outros. Quando entraram em colapso, essas economias caíram numa profunda recessão, e os níveis das suas dívidas caíram. Nos três países, o crescimento económico era essencial para completar um processo de deleveraging a 5 ou 7 anos.

É verdade de que não economias iguais muito menos com mesmo processo de deleveraging. No entanto, quer a Finlândia, Coreia do Sul e Suécia tinham nas exportações uma forma de procurar e melhorar o crescimento económico. Também é verdade de que nas Economias de hoje para além da sua dimensão ser maior, os seus processos enfrentam circunstâncias mais difíceis. Ainda assim, a experiência histórica sugere cinco perguntas que os líderes empresariais e do governo devem considerar como forma de avaliarem as economias e as suas direcções, assim como permitir melhor definição de prioridades.

Estabilidade do Sistema Bancário

Na Finlândia e Suécia, os bancos foram recapitalizados e alguns chegaram a ser mesmo nacionalizadas. Na Coreia do Sul, alguns foram fundidos e outros fechados, e os investidores estrangeiros, pela primeira vez, tiveram o direito de poderem se tornar investidores maioritários nas instituições financeiras do país. Por outro lado, resoluções decisivas quanto aos créditos de risco e mal parados foram fundamentais para o arranque da fase de recuperação económico.

Hoje, o sector financeiro tem merecido particular atenção, principalmente a partir de 2009, no entanto, é certo de que os bancos irão precisar aumentar os seus capitais nos próximos anos para cumprir Basileia III e regulamentações nacionais. Na maioria dos países europeus, a procura de crédito pelas empresas está em queda ou lento crescimento, mas até à data, a oferta de crédito, ainda não foi seriamente restringida. Provavelmente, a continuação da crise da zona do euro, representará um risco de uma contracção de crédito significativo em 2012 se os bancos forem obrigados a reduzir os empréstimos numa fase de restrições de financiamento. Como um deleveraging forçado irá prejudicar significativamente a capacidade da região fugir da recessão.

Reformas Estruturais

Na década de 1990, cada um dos países em crise embarcou em um programa de reforma estrutural. Para a Finlândia e Suécia, a adesão à União Europeia levou a maiores economias de escala e maior investimento directo. Por outro lado a desregulamentação em indústrias específicas, como é o caso do retalho, também desempenharam um papel importante. Na Coreia do Sul também se seguiu um curso semelhante, isto é, reestruturou-se o sector empresarial em grandes conglomerados, o famoso Chaebol, e abriu-se a economia de uma forma ampla para o investimento directo estrangeiro. Estas reformas desencadearam o crescimento através do aumento da concorrência na economia e levando as empresas a aumentar sua produtividade.

As economias mais problemáticas de hoje precisam de reformas adaptadas às circunstâncias de cada país. Por exemplo, nos Estados Unidos, merece atenção a necessidade de simplificação e aceleração das aprovações regulações do investimento empresarial, em especial com relação ao capital e empresas estrangeiras. No Reino Unido deve-se atender ou rever o planeamento e normas de territoriais para permitir a expansão e crescimento das cidades bem sucedidas e acelerar a construção de casas. Espanha deve simplificar drasticamente as regulamentações a volta dos negócios, facilitar a criação de novas empresas, melhorar a produtividade, fomentar a reforma das leis laborais. Tais mudanças estruturais são particularmente importantes para a Espanha, porque as restrições fiscais no quadro da União Europeia impõe ao país limites e contenções da sua Dívida Pública, para estimular a economia. Além disso, como parte da zona do euro, a Espanha não tem a opção de desvalorização cambial para estimular o crescimento das exportações

Exportações

Na Suécia e na Finlândia, as exportações cresceram cerca de 10% ao ano, entre 1994 e 1998. Esta evolução foi impulsionada por empresas exportadoras e pelas desvalorizações da moeda ocorridas durante a crise (34% na Suécia 1991-1993). Desvalorização de 50% da moeda da Coreia do Sul em 1997, ajudou o país aumentar sua participação nas exportações em produtos electrónicos e automóveis.

Hoje, mesmo que as exportações, por si só, não sejam suficientes para estimular uma recuperação ampla, são sempre importantes contribuintes para o crescimento das economias. Especialistas têm recomendado que os decisores políticos resistam ao proteccionismo. As exportações de serviços, incluindo aquelas "ocultas" que os estudantes estrangeiros e turistas geram, podem vir ser chave para o crescimento das exportações no Reino Unido e nos Estados Unidos.

Investimento Privado

Um elemento importante no crescimento na Finlândia, Suécia e Coreia do Sul foi a rápida expansão do investimento privado. Na Suécia, aumentou 9,7% ano durante a recuperação económica que começou em 1994. Adesão à União Europeia fazia parte do ímpeto. Algo semelhante aconteceu na Coreia do Sul depois de 1998, com a queda das barreiras ao investimento directo do estrangeiro. Estes influxos crescentes ajudaram a compensar o consumo privado.

Hoje, dadas as actuais baixas taxas de juros no Reino Unido e nos Estados Unidos, não há melhor momento para se investir. Principalmente, na infra-estrutura, onde existem amplas oportunidades para renovar as redes de energia e de transporte, já em envelhecimento nesses países. Com financiamento público limitado, o sector privado pode desempenhar um papel importante, se as estruturas de preços e regulamentares permitem às empresas obterem um retorno justo.

Crédito a Habitação

Em todos os casos apresentados, o mercado da habitação estabilizou e só começou a se expandir novamente como a recuperação da economia, assim como nos países nórdicos, o mercado de capital também se recuperou. Este desenvolvimento forneceu apoio adicional para uma taxa sustentável de crescimento do consumo aumentando ainda mais o "efeito riqueza" sobre os balanços das famílias. Nos EUA, sem a estabilização dos preços, uma recuperação mais forte do PIB, será difícil, dado que a construção de imóveis residenciais contribuíram sozinhos com cerca de 5% do PIB antes da bolha imobiliária. Por outro lado, habitação também estimula a procura dos consumidores por bens duráveis como electrodomésticos e móveis e, portanto, impulsiona a venda e fabricação desses produtos.

ALERTA

Numa altura em que a recuperação económica é urgente, a crise da zona Euro ameaça a acelerar, a confiança nos negócios e no sector financeiro está em baixo, pode ser tentador para os governante e executivos seniores ficarem sentados à espera de melhores condições macro económicas envolventes, que lhes parece estar para além do controlo de qualquer pessoa. Esta abordagem seria um erro também ele colossal. Os líderes empresariais que entendem os sinais, e os líderes dos governos que saibam estabelecer condições prévias para o crescimento, podem fazer a diferença para os seus próprios resultados e para a economia global.