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Tuesday, April 8, 2008

Cabo Verde e a Banalisação do Conceito Estartégia

Permitam-me iniciar pela definição dos dicionários deste conceito ignominiosamente usado. Estratégia, não é mais do que a “parte militar que estuda as grandes operações de guerra e lhes prepara o plano”. A palavra Estratégia deriva do termo Grego strategos, que combina stratos (exército) com ag (liderar). Por isso, strategos significa literalmente a “função do General do exército”.
A utilização banal, a que este tem sido vítima em Cabo Verde, em que muitos têm violado abusivamente esta máxima, obriga a esta necessidade de repor o termo no seu ensejo.
Não existe diferenças entre a Estratégia militar, de gestão de empresas ou de um estado/governo. Em todos os casos se trata de saber orientar recursos, dirigir homens, “conquistar mercados”, definir prioridades e estabelecer planos de actuação. Tanto um gestor como um governante são dois condottiers, homens que definem áreas prioritárias de intervenção tal como um estratego.
Pois bem, a formulação da Estratégia deve respeitar quatro princípios fundamentais. Princípio da escolha do local de batalha, selecção dos mercados onde a empresa ou o estado vai competir ou intervir. Princípio da concentração de forças, organização dos recursos da empresa ou estado. Princípio das forças directas e indirectas, gestão das contingências.
Antes da concretização da Estratégia, existe o pensamento estratégico e o seu planeamento. O pensamento e planeamento estratégico deve se caracterizar pela, definição dos objectivos, como conduzir ao sucesso enquadrado no meio envolente, pelo processo da identificação das driving forces, oportunidades e ameaças do meio envolvente, conhecimento real dos factores críticos de sucesso, pontos fortes e fracos da instituição, avaliação das opções estratégicas e selecção da melhor alternativa para a sua operacionalização. Uma Estratégia bem formulada tem de ser completa e explícita. Este pensamento estratégico deve proceder ao plano estratégico, pois, a Estratégia, antes de ser um plano, é apenas um conjunto de visões integradas da actuação da instituição, empresa, exército ou estado.
O plano estratégico deve assumir funções de catalisador, fornecer informações e análises para a reflexão sobre as questões estratégicas, coordenação, recolher as visões e análises, organizá-las em documento síntese, programação, estruturar os planos estratégicos em políticas de gestão, programas e acções, controlo, acompanhar a execução dos programas e acções e alterar para os desvios identificados.
Sintetizando o acima descrito, podemos concluir que a Estratégia é essencial ao sucesso de qualquer instituição, seja ele uma organização, estado ou empresa, uma vez que define a natureza da relação entre as instituições, os seus públicos, clientes e concorrentes. Em conjunto, acções estratégicas e tácticas visam assegurar que a instituição proporcione um valor acrescentado. Nesse sentido, convém reconhecer, por um lado as similaridades entre a formulação da Estratégia empresarial, estatal ou militar, e, por outro lado, as diferenças de prespectivas entre o pensamento e planeamento estratégico. Finalmente é importante identificar as características dos bons estrategos e acompanhar a evolução do pensamento estratégico internacional.
Sendo a estratégia um concentrado de pensamentos, opções e escolhas, como pode ser tudo estratégico? Mais, num país como Cabo Verde, carente de recursos e liquidez, como consegueríamos manter todas as estratégias? Estas questões põem-se não só em termos governamentais, mas principalmente em termos empresariais. A opção em determinar tudo como estratégico conduz-nos a uma fragmentação e dispersão despropositada dos escassos recursos, o que leva a um sucesso tendencialmente nulo em qualquer das opções.
A aposta em determinado sector, não significa a desvalorização de outros, bem pelo contrário, a focalização estratégica leva ao chamado desenvolvimento paralelo, ou seja, se uma indústria se desenvolve muito, o seu patamar de desenvolvimento pressiona todas as indústrias correlacionadas, possíveis e passíveis de sinergias com a primeira, à um desenvolvimento ao mesmo nível, e assim, estas consequentemente influenciaram outras.
A partir da análise da situação actual das empresas e ou país, dos seus potenciais de desenvolvimento, terá de se responder a questão: Que queremos que o nosso país ou empresa seja daqui a 20 ou 30 anos? Que sectores de actividade queremos ver desenvolvidos? Que competências pretendemos ver nos empregados e ou cidadãos? Qual os valores culturais que pretendemos ver preservados? Que sistema educativo, deveremos apostar, para os nossos jovens? A motivação dos nossos concidadãos e empregados em torno de um projecto estratégico que eles ajudaram a definir leva à consciencialização das oportunidades que poderão ter, que competências são mais valorizadas pelo mercado de trabalho.
Subjacente a necessidade das empresas e ou o país criarem uma vantagem competitiva, dinamizando o seu sistema, e face às carências do mercado Cabo-verdiano, está a definição da Estratégia a seguir. Este é o motor de arranque para a dinamização da empresa ou do país.
A definição da estratégia cria as condições para a existência de mais ou melhores factores de produção atraindo investimento estrangeiro apoiando a internacionalização das empresas nacionais, aumenta as condições da procura, pois, cria e ou molda uma imagem que credibilize o país e ou a empresa. A concentração estratégica do país em determinadas indústrias poderá permitir o aumento da rivalidade entre as empresas, fomentando as suas capacidades de inovar, atributo essencial para a produtividade e a consequente construção de vantagens competitivas.
Este apelo a não banalização do conceito Estratégia abre-se numa proposta de definição, sim, clara e precisa, da Estratégia como uma arma e o seu combustível, ao desenvolvimento sustentado, acelerando e dinamizando o sistema em que a sua instituição, organização, empresa, ou o próprio estado se insere.

Emílio Fernandes Rodrigues
Marketeer
Pela’ ESCS – Instituto Politécnico de Lisboa

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